Aos 5 anos tive a maior declaração pública de amor e você
pode não acreditar, mas travei de tanta timidez. Calma, eu explico.
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Tad Lapin |
Não sei o porquê, mas grandes coisas aconteceram nas minhas idades com o número 5.
Sim, tudo começou aos 5, quer dizer, um pouco antes. Dos 4 para os 5 algo estava diferente.
Era uma vez a Michelinha do cabelo comprido, meio liso e meio encaracolado que tinha que ir à escola.
Não queria, minha casa era tão legal...lá eu podia ver os vizinhos
italianos brigando ou a vizinha carnavalesca experimentando sua fantasia linda
e cheia de brilhos. Podia brincar na rua (mas atenção, estava proibida de
atravessar a rua, isso eu só poderia fazer aos 8 anos). Podia tomar groselha
com leite quando bem entendesse. Podia subir na árvore de amora e comer direto
do pé, sem lavar. Podia brigar com o meu irmão, morder meu próprio braço e
falar pra minha mãe que tinha sido ele. Podia deixar meu lado hippie falar mais alto. Podia brincar e só brincar.
Mas não...nãaao. Aos 5 veio o primeiro peso de responsabilidade. Lembro até hoje da blusinha branca com manga bufante, saia jeans, meia soquete, bamba branco e bolsinha roxa de lado. Look do dia para o primeiro dia. Tudo bem que teria responsabilidade, mas tinha que ser dentro da moda, ok?
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Aos 4 (quase 5), hipponga e feliz. |
Mas não...nãaao. Aos 5 veio o primeiro peso de responsabilidade. Lembro até hoje da blusinha branca com manga bufante, saia jeans, meia soquete, bamba branco e bolsinha roxa de lado. Look do dia para o primeiro dia. Tudo bem que teria responsabilidade, mas tinha que ser dentro da moda, ok?
Cheguei naquele lugar que parecia gigante e naquela sala com 7 alunos,
uma multidão para a pequena Michelinha.
Parei, olhei e chorei.
Simmm, eu chorei.
Não queria aquela coisa, não queria gostar daquela vida nova, não queria
mudar tudo o que já tinha. - Ai que saco, devo ter pensado.
Mas obediente que sou, engoli o choro e fui.
A primeira semana foi difícil.
Uma menina que era a líder da galera me odiava e sabem o que ela
faziaaa?? Abaixava a minha saia na frente dos meninos. E eu: buáaaa. Tadinha de mim, muita dó.
Na segunda semana minha expectativa já era outra. Minha mãe falou que ia
mudar para o meu prédio uma menina da mesma idade. Fiquei tão feliz e curiosa
que nem ligava mais para as provocações da feiosa.
- NÃAAAO, eu não acredito mãe...por que isso tem que acontecer comigo? Buáaaaaa....
Ahhh como eu chorei. Não entendia a injustiça da vida. Estava cansada de
brincar com o meu irmão, já minha irmã que era mais velha só queria namorar.
A primeira menina do meu prédio tinha que ser ela? Não entendia aquilo.
Mas minha mãe não quis saber, me pegou pela mão e dim-dom:
- Olá
querida, tudo bem? Essa é a Michele, minha filha, sei que já se conhecem da escola
e ela vai ficar aqui na sua casa até se tornarem amigas. Dá beijo Russinha (sim, minha mãe me
chama assim, não me pergunte o motivo), tchau.
Ficamos olhando para a cara da outra. Cri cri cri.
Descobri que ela morria de medo da minha mãe e acho que foi por isso que
resolveu que seria melhor ser minha amiga.
Na sexta semana eu já dominava o Pré. - E ai, man...qualé Cirilo?!
E ai chegou abril e com ele a esperança de ser mais adulta. Tchau 4, venha 5 anos. CINCO...uma mão cheia de dedos. Um tapa na cara. Um tchau. Um péra ai. Um aceno. CINCO.
Lembro que o dia estava lindo. Lembro de pedir para a minha mãe passar a
jardineira jeans e fazer um laço bem lindo. Lembro que caminhei pelas ruas da
Pompéia me achando o máximo. Eu que de nada lembro, lembro disso tudo.
Cheguei feliz da vida na escola, esperei o “parabéns Mi” de cada
amiguinho, mas nada. Da monstra que não era mais monstra, e nada. Da
professora, e nada. Da tia da merenda, e nadica de nada. Loser, forever
alone!!!
A manhã passou e quase na hora de ir embora, o menino mais lindo que já
vi aos cinco anos, entrou com um bolo na mão: “parabéns pra você, nessa data querida...é hora é hora rá tim bum...”,
e a classe numa empolgação sem fim cantou o “Parabéns” mais emocionante da
minha vida.
De repente as lágrimas não cabiam mais nos meus olhos, minha alma não conseguia segurar toda aquela emoção e meu corpo fez elas saírem. Uma a uma, escorriam dos meus olhos, passeavam pelas bochechas e caiam no chão. Outras vinham para a boca, bem salgadinhas. Era capaz até de ouvir uma musiquinha bem fofa de fundo, mas de repente parece que o disco riscou...o “menino mais lindo” olhou bem pra mim e falou:
- Ahhhh olha só, ela tá chorando. Lá lá lá Michele chorona!
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Ali Pie |
De repente as lágrimas não cabiam mais nos meus olhos, minha alma não conseguia segurar toda aquela emoção e meu corpo fez elas saírem. Uma a uma, escorriam dos meus olhos, passeavam pelas bochechas e caiam no chão. Outras vinham para a boca, bem salgadinhas. Era capaz até de ouvir uma musiquinha bem fofa de fundo, mas de repente parece que o disco riscou...o “menino mais lindo” olhou bem pra mim e falou:
- Ahhhh olha só, ela tá chorando. Lá lá lá Michele chorona!
Nunca senti tanta vergonha na vida. Que ódio!
Mas o dia passou e eu já tinha CINCO ANOS. E mais, tinha chegado o final de semana, ficaria sem ver a galera por 2 dias. Sabem o
que são 2 dias para uma criança? Uma nano eternidade. Eles iam esquecer o meu
descontrole.
Além disso quando cheguei em casa tinha a roupa mais linda em cima da cama com uma boneca que nunca mais esqueci, a "Stéfanne". Também tinha x-salada, batata frita e bolo de suspiro com sorvete. Tá bom ou quer mais?
Queroo maiss!!
Então tem mais, chegou o domingo e com ele a estreia da principal peça de teatro do meu pai até aquele momento.
Por meses ele escreveu, montou cenário, ensaiou loucamente.
O teatro estava lotado, todas as cadeiras preenchidas, aquele burburinho e a cortina vermelha gigante e imponente.
Além disso quando cheguei em casa tinha a roupa mais linda em cima da cama com uma boneca que nunca mais esqueci, a "Stéfanne". Também tinha x-salada, batata frita e bolo de suspiro com sorvete. Tá bom ou quer mais?
Então tem mais, chegou o domingo e com ele a estreia da principal peça de teatro do meu pai até aquele momento.
Por meses ele escreveu, montou cenário, ensaiou loucamente.
O teatro estava lotado, todas as cadeiras preenchidas, aquele burburinho e a cortina vermelha gigante e imponente.
ABREM-SE AS CORTINAS e começam as sensações:
risadas, emoção, susto, ansiedade, mais risadas e palmas, muitas palmas no
final. Foi quando ele, o escritor e ator principal, disse em alto e bom som:
- Hoje a menina que mais amo está
aqui, fazendo 5 anos. Michele, filha, levanta e receba as palmas do público.
De novo lá estava eu, emocionada e sentindo o
coração sair do peito, mas não...ele continuou e o que saiu foi um balde de
lágrimas dos meus olhos.
Travei de timidez, mas senti toda a parte daquela
pequena vida ser preenchida por um amor que não se descreve com palavras. Me
sentia acolhida, querida, necessária na vida das pessoas.
Aos 5 anos travei pela primeira vez, porque ali descobri que se sentir amada é bom. Dá medo, trimilique, arrepio e as vezes até vontade de chorar, mas é tão maravilhoso que nada supera essa sensação.
Aos 5 anos travei pela primeira vez, porque ali descobri que se sentir amada é bom. Dá medo, trimilique, arrepio e as vezes até vontade de chorar, mas é tão maravilhoso que nada supera essa sensação.
Um comentário:
Ainda bem que leio... ainda bem que ouço a música junto... do jeitinho que você pede!!
Você é incrível, continuo amando seus relatos!! ♥
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