sexta-feira, 19 de julho de 2019

Se eu não tivesse te conhecido


Se eu não tivesse te conhecido ouviria aquela música do jeito que sempre ouvi, apreciando apenas sua beleza.

Se eu não tivesse te conhecido não saberia o que é ser xingada, vigiada, controlada.

Se eu não tivesse te conhecido não entenderia o porquê de mentiras nesse mundo.

Se eu não tivesse te conhecido ainda seria a mulher que tinha fé na humanidade.

Tudo se eu não tivesse te conhecido.



sexta-feira, 16 de dezembro de 2016







Se veem
Se inspiram
Se admiram
Se conhecem
Se falam
Se trocam
Se descontraem
Se sentem
Se gostam
Se querem
Se temem
Se desencontram
Se afastam
se esfriam
Se lembram
Se agradam
Se aquecem
Se imaginam
Se encontram
Se tocam
Se satisfazem
Se enlouquecem
Se temem
Se respiram
Se vivem
Se magoam
Se quebram
Se desejam
Se temem
Se machucam
Se desejam
Se temem
Se desejam
Se temem
Se desejam
Se temem
Se amam
Mas se temem.



Poderia, deveria e até seria uma história de amor, mas temiam. Se temiam tanto quanto se amavam. E se amavam tanto quanto se desejavam. E se desejavam tanto quanto sonhavam. E imaginaram tanto, que temeram enfrentar a realidade.


Um conto que continua.


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Não vendo, não alugo e não empresto!

PARA OUVIR O POST ENQUANTO LÊ A MÚSICA:
https://www.youtube.com/watch?v=9HRX3SMy8FE


“NUNCA VENDA AQUILO QUE NÃO SE PODE COMPRAR”.
Seu Marchine

Essa é a frase mais sábia de todos os tempos.
Um dia minha “amiga irmã comadre” Aninha Marchine contou que seu pai, com toda a sabedoria de um homem que sabe das coisas, falou bem sério para ela:
“filha, não venda suas férias, aliás, nunca venda aquilo que não se pode comprar!”.

E eu, me sentindo uma filha postiça da situação respondi mentalmente: “tá bom, papi”.


Sigo fielmente o ensinamento não vendendo jamais dias de férias e nem a minha paz (em algumas situações, claro). 
Mas agora decidi não me vender mais à angústia do desconhecido.
Sabe quando sua vida está prestes a mudar de forma drástica? Ou sabe quando você tem algo muito muito muito importante para fazer amanhã e está sofrendo há 3 semanas? Então...é para isso que decidi não me vender mais.

Tá bom vai, comecei falando do que posso vender e não de me vender à algo. Mas é tudo a mesma coisa e você entendeu o que quero dizer. 
Chega de ficar louca alucinando nas possibilidades de amanhã sendo que HOJE preciso VIVER.

De estranha já basta a situação que vivi no metrô em meados de setembro de 2014.

Naquele dia resolvi aproveitar a hora do almoço para buscar uma roupa baphooooonica que comprei da minha estilista predileta. 
Hora da propaganda: @lacecileonline

  


Fui de metrô, peguei o lindo pacote na portaria do prédio dela e senti aquele frio na barriga de quando adquirimos algo novo, aquele suspiro apaixonado por coisa nova, ai ai....

Entrei na estação Alto do Ipiranga e na estação seguinte uma mulher, como tantas outras, entrou também. 
Ficou em pé, o tempo todo, no metrô vazio, na minha frente, olhando pro nada.
Eu olhava para essa mulher e pensava: “tem alguma coisa estranha”.

Ela estava de óculos escuro, um casaco bem quente com capuz (só que fazia calor) e um olhar estranho. Para ajudar, a senhorinha sentada ao meu lado ficava dando a letra: "á lá, á lá", falava só isso e me cutucava.


E sabe quando você sabe que não deve olhar para uma pessoa, mas olha? Então...toda hora eu olhava e quando ela percebia, eu disfarçava rapidinho. Aquilo tudo estava com cheiro de "vai dar ruim".

Perto da estação Trianon-Masp, sacou um martelo da bolsa, M A R T E L O, começou a martelar com muita força aquele botão de emergência pro metrô parar e gritava: “assaltar eu não vou, mas tô armada e acho bom todo mundo ficar quieto”.
Ela queria parar o metrô de qualquer forma e na hora pensei: “adeus, é bomba, vamos todos pros ares ouuuu ela vai soltar um gás lacrimogêneo, já era!”.
No meio do meu pensamento, ela mexeu na mochila e tirou uma caixinha....gritei na minha mente: “é a bomba, lascouuuu!”.
O povo todo correu para as laterais do vagão e ela ficou no meio, sozinha, causando.  

Minha vida recente passou pela mente. Sim...não vou mentir, não pensei no passado. Pensei na roupa que não seria usada, no restaurante por quilo mequetrefe que teria proporcionado minha última refeição, na dieta lascada que fez com que eu não comprasse um Tablito, nessas coisas bem fúteis, sim, pensei nelas e em outras mais sérias.

Mas de repente o vagão parou na estação, ufaaaaaaa. Eu e meus amigos do momento ficamos aguardando o próximo passo da terrorista. Ela ameaçava ficar e nós ameaçávamos sair, ela saiu e nós corremos para dentro. Foi ridículo, parecia um flash mob.

O que importa é que ela saiu, os seguranças do metrô correram atrás e não posso dizer o que houve porque não sei. 
Aposto que sua curiosidade ansiava por um desfecho, a minha também, mas estava muito nervosa no momento. 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Ô morena...

A mulher sofre abuso todos os dias. Deixei essa história um pouco engraçada para amenizar a vida, mas no fundo ela mostra como homens podem ser bemmm abusivos.

Não sei nem como começar a contar o maior BAPHO da minha vida. Mas já não dá para continuar aqui sem compartilhar esse tragicômico momento.


A Pompéia é um bairro da Zona Oeste de São Paulo que cresceu cheio de imigrantes italianos, atraídos pelas centenas de indústrias que apareciam na região. 

No bairro tem lugares muitoooo legais, como o Sesc Pompéia, o Allianz Parque (antiga Sociedade Esportiva Palmeiras e o Parque da Água Branca. Além disso, foi berço de várias bandas nos anos 70/80.
Lembro que os Titãs gravavam num estúdio na minha rua e eu amava ver aquele povo entrando e saindo da casa que tinha o meu muro do “esconde-esconde”.

Nasci, cresci e me desenvolvi no bairro.
No auge do desenvolvimento, aos 16, lá estava eu na frente da Pizzaria Micheluccio esperando o busão para ir à casa das minha best Kako que morava na Lapa.

Ahhh eu e a Kako....a gente aprontou tanto nessa vida que acho que nem cabe aqui nesse espaço. Mas ela é uma das pessoas mais divertidas, lindas e especiais do universo. Sabe aquela pessoa do bem? Aquela pessoa que dá a roupa do corpo pra não te ver passando frio? Essa é a Kako.
A casa dela era na rua mais legal da Vila Romana, a Rua Baré. Ficávamos sem fazer nada, só falando e rindo muito. As pessoas mais incríveis que já conheci saíram de lá.
Ohh tempo bom.

Mas voltando ao assunto, lá estava eu de calça quase nas peitas, blusinha branca e botinha nos pés...toda me achando.
Eu e um senhor no ponto de ônibus, solamente.

Do outro lado da Av. Pompéia estava o trânsito das Índias, afinal ia ter jogo e aí era puro caos.
Não tinha fone para ouvir uma musiquinha, éramos eu e o som das ruas.

Foi quando percebi um ônibus em direção ao Palmeiras lotado de torcedores: 

PALME Ê Ê Ê RAS, UH UH.... PALME Ê Ê Ê RAS, UH UH....


Aconteceu um milésimo de segundo de silêncio e ouvi na sequência:

 - AE MORENA, OW GOSTOSA, VIRA AE QUE A GENTE QUER VER A SUA BUNDA!

Sim, eles sabiam o que queriam.
Passaram o objetivo em uma frase, assim, sem nenhum pudor. Homens unidos e abusivos se achando o máximo dos máximos.

Eu só pensei: 
- ah tá!
E fiz uma cara de ranço.

Mas o trânsito não fluía, a torcida pedia e não era atendida, então rolou uma revolta forte e fui alvo da fúria que só as mães dos juízes podem entender.

Em looping ouvi a canção:

morena vagabunda eu vou comer sua bun..*piiii, e a b...*piiiiii, e e e e e e vou chupá suas tetá...”
*censura obrigatória pelo teor maldoso da poesia abusiva urbana.

Foram os 5 minutos mais eternos e horrorosos da minha vida.

E vocês lembram que comentei que um senhor estava comigo no ponto? Pois é.
Vocês acham que ele se compadeceu de mim? NÃO, meu povo!
Ele ficou numa curiosidade tão louca que deu uma analisada bem dada e fez um jóia para a torcida. Sim, ele participou daquilo tudo.

Vontade de olhar bem pra cara dele e falar assim, ó:

Ahhh como eu queria que você estivesse aqui, véio safado do caramba!

E eu lá, parada, desolada, desacreditada pensando em planos:

 - se for embora e virar, vou mostrar minha bunda e isso pode ser tenso;

 - se ficar e não mostrar, isso continuará tenso.

Pede pro Coelho mostrar a dele, ué!

Não fiz nada, só senti vontade de chorar, mas o trânsito andou e a torcida lembrou o motivo de estarem esmagados dentro de um ônibus.

Os gritos voltaram a ser:
PALME Ê Ê Ê RAS, UH UH.... PALME Ê Ê Ê RAS, UH UH....

O senhor quis puxar papo, não lembro, mas desconfio que o mandei dar uma pequena ida ao mundo do cocô.


Cheguei na casa da Kako me sentindo moralmente degolada. O sentimento passou porque somos fortes, mas a historinha existe e que possamos refletir e ensinar aos amiguinhos que isso não se faz nunca, de jeito nenhum, jamé, apenas NÃO.

Mi

=p



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

My light shines on!

PARA OUVIR O POST ENQUANTO LÊ A MÚSICA: 
http://www.youtube.com/watch?v=peugq83Fv2c

Num desses dias lindos de sol estava eu com meus amigos no sítio em Itatiba. Conhece Itatiba? É uma cidadezinha do interior de São Paulo...uma delicinha. Estávamos no sítio da Magrela, amiga querida.

Pois bem!

Rimos, pulamos estilo "bomba" na piscina para molhar todos ao redor, comemos até não caber mais e chegou uma hora que cansamos. Deitei na grama e vi uma borboleta...ahhh as borboletas e nossa relação. Sim, eu e elas conversamos...somos amigas...elas pousam em mim, confiam no meu caráter e sabem que jamais faria algum mal à elas.
Dizem que a borboleta é o "pássaro da alma" e eu acho que Deus as fez para nos confrontar da forma mais intensa e profunda.

a borboleta de Itatiba


Viajei no processo de metamorfose daquela minha amiga borboleta e nunca mais esqueci. Hoje aquela viagem é mais real na minha vida do que o teclado que digita essas palavras....
 
Nunca vi bicha mais acomodada que a lagarta. Ela é molenga, lesmuda e vive a vida em slow. Ahhh sem falar que só come. E mesmo assim, manda bem produzindo os fios de seda que formam o casulo e sua proteção. A vida dela é boa, o mundinho dela é tranquilo. Ela nem se importa com as maldades dessa vida, com fofoquinhas, nada a abala. Mas ela sabe que um dia a festa vai acabar. Com certeza ela sente que aquela vida no casulo é o fim de uma fase. E cer-te-za que ela deve achar UÓ.

Visualizo a lagarta dramatizando: por queeee meu Deus, eu não mereço isso!!! 

E a parada é mais forte do que a vontade dela. A lagarta se transforma dentro do casulo, o corpo dela vai mudando e chega uma hora que ela tem que romper...já não dá mais para continuar no comodismo. E quando rompe, TEM QUE COLOCAR AS ASINHAS PRA FORA e tem que voar.


Acho que o primeiro voo é como um bebezinho andando.  Parecem meio bêbados, né? Ela deve voar toda desorientada...afinal gente, olha a crise na vida dessa bicha! Vocês acham que ela não lembra seu passado de segurança? Fora o apego aos hábitos e o medo que a impede de ver as possibilidades.
Ela escolhe: ou sofre, ou se frustra ou se transforma de uma vez por todas!

E o processo de mudança é inevitável na vida dela. Mas se ela assumir a transformação seus sentidos ficarão alertas e haverá energia, vontade, coragem, desejos, sonhos! 
Cai o comodismo e entra o "mundo desconhecido de coisas novas que fazem a borboleta sentir borboletas no estômago"!


Alguém ai sabia que a borboleta pode atravessar um oceano voando? 
Não sabia?
Então já sabe...ela pode e ela vai, linda, leve, loira/morena, colorida e mostrando seus dentes invisíveis porque o sorriso está escancarado em sua cara de borboleta.
Ela recria seu futuro. Ela se conecta com Deus e Sua linda criação.
Ela se sente merecedora da mudança. Ela entende que os fios de seda e o alimento garantido não a fazem plena. Ela é o pássaro da alma que precisa de liberdade e não de limites. E ela vai...na verdade, ela está indo.

Prazer, meu nome é Michele e ontem deixei minha vida de lagarta, rompi o casulo.
Estou colocando as asinhas para fora e depois conto melhor a sensação e os resultados. Agora vou voar um oceano e já volto. Afinal é como diz a música: "I was blind, now I can see...".

Com carinho. 
Micheleta.



segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A free man..ops, bear.

Muiê, começa a postar suas fotos no blog, disse um dos melhores amigos da vida inteira.
Parei, pensei, deixei. 
Muiê, faça logo essa página e coloca suas fotos.
Ai caramba, não que é tem tudo a ver?, pensei eu.

Então lá vai, gente. Lá vai uma das minhas fotos preferidas junto com a minha interpretação, afinal como bem sabem, não sou terráquea, nem marciana, nem nada disso...vivo num mundo paralelo e talvez por isso meu lugar preferido seja Wonderland !!

A foto do urso esquecido.
Março de 2012
Brás, São Paulo, SP.

Quer um abraço?

Meu nome? Não importa, deduza você.
Já fui marrom, mas não um marrom escuro, era clarinho...quase bege. Um dia vi que uma turma se reuniu e olhando para mim comentavam algo, me tocavam e continuavam confabulando. Deduzi que tinha a ver com a minha cor. Ouvi que o bege me apagava, mesmo com esse tamanhão todo.
Me pintaram. Tossi muito, acho que era alergia da tinta. Ninguém ligou e eu sabia que não adiantava falar, eles nunca escutaram e nem escutariam. Resisti e me curti, fiquei dourado.

Passou um tempo, não muito, e uma pessoa me levou pra outro galpão. Acho que era galpão, não sei bem porque era transportado com um capuz que cobria meu corpo inteiro. Acredito que eles não queriam que eu descobrisse o caminho para não fugir.

Estava farto daquela vida! 

Foi quando vi que iam me pintar de branco, porque branco tem a ver com paz e coisa e tal.
Ahhh mas não mesmo, nem aqui, nem na China, pensei eu.

Vi um filme outro dia, chamava Toy Story. Será que sou brinquedo? Ou será que estou mais pra Uma noite no museu?. Eu precisava de um coração, de uma vida, precisava dominar minhas pernas. Desejei que esses filmes fossem reais.

Filhoooos da mãe, estão me pintando!!! Pronto, tô branco e purpurinado. Tô horrível e tossindo que nem um trem avisando que está chegando na estação, aff.

Opa opa péra lá, estão me colocando num carro enorme e tem gente me olhando. E essa música no último volume?? Ah não, não querooo. Péra, tô sentindo meus pés...vou correr.

E corri, e vi uma loja de tinta. Então resolvi que viveria com a cor que eu escolhesse. Curti o pink, me pintei. Fui livre. Corri, mas meus pés pararam, tive que parar. Parei e não importa mais nada, agora sou livre. Tomo chuva, tomo muito sol na cachola, me rasgam, me olham, me fotografam e até já me fizeram de colchão. Não importa, sou livre.




A foto no Instagram e seus filtros que tanto amo. 



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A vergonha do amor!

PARA OUVIR O POST ENQUANTO LÊ A MÚSICA: 
 http://www.youtube.com/watch?v=DHEOF_rcND8

Aos 5 anos tive a maior declaração pública de amor e você pode não acreditar, mas travei de tanta timidez. Calma, eu explico.

Tad Lapin

Não sei o porquê, mas grandes coisas aconteceram nas minhas idades com o número 5. 
Sim, tudo começou aos 5, quer dizer, um pouco antes. Dos 4 para os 5 algo estava diferente. 
Era uma vez a Michelinha do cabelo comprido, meio liso e meio encaracolado que tinha que ir à escola.
Não queria, minha casa era tão legal...lá eu podia ver os vizinhos italianos brigando ou a vizinha carnavalesca experimentando sua fantasia linda e cheia de brilhos. Podia brincar na rua (mas atenção, estava proibida de atravessar a rua, isso eu só poderia fazer aos 8 anos). Podia tomar groselha com leite quando bem entendesse. Podia subir na árvore de amora e comer direto do pé, sem lavar. Podia brigar com o meu irmão, morder meu próprio braço e falar pra minha mãe que tinha sido ele. Podia deixar meu lado hippie falar mais alto. Podia brincar e só brincar.


Aos 4 (quase 5), hipponga e feliz.


Mas não...nãaao. Aos 5 veio o primeiro peso de responsabilidade. Lembro até hoje da blusinha branca com manga bufante, saia jeans, meia soquete, bamba branco e bolsinha roxa de lado. Look do dia para o primeiro dia. Tudo bem que teria responsabilidade, mas tinha que ser dentro da moda, ok?

Cheguei naquele lugar que parecia gigante e naquela sala com 7 alunos, uma multidão para a pequena Michelinha.
Parei, olhei e chorei.
Simmm, eu chorei.
Não queria aquela coisa, não queria gostar daquela vida nova, não queria mudar tudo o que já tinha. - Ai que saco, devo ter pensado.
Mas obediente que sou, engoli o choro e fui.

A primeira semana foi difícil.
Uma menina que era a líder da galera me odiava e sabem o que ela faziaaa?? Abaixava a minha saia na frente dos meninos. E eu: buáaaa. Tadinha de mim, muita dó.
Na segunda semana minha expectativa já era outra. Minha mãe falou que ia mudar para o meu prédio uma menina da mesma idade. Fiquei tão feliz e curiosa que nem ligava mais para as provocações da feiosa.
Na terceira semana meu mundo caiu, a monstra que me zoava na escola mudou para o meu prédio.


- NÃAAAO, eu não acredito mãe...por que isso tem que acontecer comigo? Buáaaaaa....

Ahhh como eu chorei. Não entendia a injustiça da vida. Estava cansada de brincar com o meu irmão, já minha irmã que era mais velha só queria namorar.
A primeira menina do meu prédio tinha que ser ela? Não entendia aquilo.

Mas minha mãe não quis saber, me pegou pela mão e dim-dom:

 - Olá querida, tudo bem? Essa é a Michele, minha filha, sei que já se conhecem da escola e ela vai ficar aqui na sua casa até se tornarem amigas. Dá beijo Russinha (sim, minha mãe me chama assim, não me pergunte o motivo), tchau.

Ficamos olhando para a cara da outra. Cri cri cri.
Descobri que ela morria de medo da minha mãe e acho que foi por isso que resolveu que seria melhor ser minha amiga.

Na sexta semana eu já dominava o Pré.  - E ai, man...qualé Cirilo?!
Estava toda engendrada na galera, toda me achando.

Christine Roussey

E ai chegou abril e com ele a esperança de ser mais adulta. Tchau 4, venha 5 anos. CINCO...uma mão cheia de dedos. Um tapa na cara. Um tchau. Um péra ai. Um aceno. CINCO.

Lembro que o dia estava lindo. Lembro de pedir para a minha mãe passar a jardineira jeans e fazer um laço bem lindo. Lembro que caminhei pelas ruas da Pompéia me achando o máximo. Eu que de nada lembro, lembro disso tudo.

Cheguei feliz da vida na escola, esperei o “parabéns Mi” de cada amiguinho, mas nada. Da monstra que não era mais monstra, e nada. Da professora, e nada. Da tia da merenda, e nadica de nada. Loser, forever alone!!!
A manhã passou e quase na hora de ir embora, o menino mais lindo que já vi aos cinco anos, entrou com um bolo na mão: “parabéns pra você, nessa data querida...é hora é hora rá tim bum...”, e a classe numa empolgação sem fim cantou o “Parabéns” mais emocionante da minha vida.

Ali Pie

De repente as lágrimas não cabiam mais nos meus olhos, minha alma não conseguia segurar toda aquela emoção e meu corpo fez elas saírem. Uma a uma, escorriam dos meus olhos, passeavam pelas bochechas e caiam no chão. Outras vinham para a boca, bem salgadinhas. Era capaz até de ouvir uma musiquinha bem fofa de fundo, mas de repente parece que o disco riscou...o “menino mais lindo” olhou bem pra mim e falou:

  - Ahhhh olha só, ela tá chorando. Lá lá lá Michele chorona!

Nunca senti tanta vergonha na vida. Que ódio!
Mas o dia passou e eu já tinha CINCO ANOS. E mais, tinha chegado o final de semana, ficaria sem ver a galera por 2 dias. Sabem o que são 2 dias para uma criança? Uma nano eternidade. Eles iam esquecer o meu descontrole.

Além disso quando cheguei em casa tinha a roupa mais linda em cima da cama com uma boneca que nunca mais esqueci, a "Stéfanne". Também tinha x-salada, batata frita e bolo de suspiro com sorvete. Tá bom ou quer mais?

Queroo maiss!!

Então tem mais, chegou o domingo e com ele a estreia da principal peça de teatro do meu pai até aquele momento. 
Por meses ele escreveu, montou cenário, ensaiou loucamente.
O teatro estava lotado, todas as cadeiras preenchidas, aquele burburinho e a cortina vermelha gigante e imponente.

ABREM-SE AS CORTINAS e começam as sensações: risadas, emoção, susto, ansiedade, mais risadas e palmas, muitas palmas no final. Foi quando ele, o escritor e ator principal, disse em alto e bom som:

 - Hoje a menina que mais amo está aqui, fazendo 5 anos. Michele, filha, levanta e receba as palmas do público.

De novo lá estava eu, emocionada e sentindo o coração sair do peito, mas não...ele continuou e o que saiu foi um balde de lágrimas dos meus olhos.
Travei de timidez, mas senti toda a parte daquela pequena vida ser preenchida por um amor que não se descreve com palavras. Me sentia acolhida, querida, necessária na vida das pessoas.

Aos 5 anos travei pela primeira vez, porque ali descobri que se sentir amada é bom. Dá medo, trimilique, arrepio e as vezes até vontade de chorar, mas é tão maravilhoso que nada supera essa sensação.

"O amor nunca precisa mudar quem você realmente é." Dale Keys